19/10/2007

O amor na contemporaneidade

Por que a percepção do amor muda de acordo com nossas vivências? Se antes era tão sublime aquele sentimento puro ingênuo, sem malícia. Aquele que nos faz sentir frio, que pasma, cala... Atos tão minuciosos... Cheiro, olhar, admirar gestos, compartilhar uma boa conversa.... Um domínio bom, exercendo uma força saudável,estimulando um sorriso mais do que qualquer erva, consumindo aquele melhor delírio, absurdamente maior do que qualquer viagem ilícita.
Na vida adulta, o fator “calejado” torna-se propriedade, opondo-se integralmente ao viver por amor... E esquecendo aquela sensação.Afinal, o condicionamento da vida moderna, requer além de corpos laboratoriais e treinamento intensivo lecionado nos reality shows, exercitando ao extremo os acéfalos, requer aquele curso pós graduando de como encarar o par moderno. Destratando,traindo,repudiando, trocando e principalmente usando o teorema; perdeu para a concorrência... A rotatividade de pares está tão grande, que é perda de tempo parar a fila em alguém e dedicar-se. Sendo que a próxima da fila pode ter mais bunda ou aquele partido deve ter mais grana no personalité. Pessoas feias só existem nessas ocasiões: as que são desprovidas de dinheiro; as que não nasceram com o corpo Bundchen, ou para aquelas que não bebem demais, para assim conseguir deturpar a visão por meio do álcool e enxergar o belo...
Alguém deu tempo suficiente para desvendar outro tipo de beleza na aceleração do mundo?Não... Desculpa, a ladainha de beleza interior virou clichê na sociedade moderna... Eu não posso perder tempo, nem deixar minha conexão cair, amanhã acordo cedo. Desculpe meu amor, hoje eu não farei amor com você, a reunião me espera logo cedo para a empresa amanhã.
Não titulo isso como mudança de valores.Os valores ainda existem, pairando no ar. É regressão da humanidade mesmo. Que se esqueceu de admirar as pequenas coisas umas nas outras e trocar horas de conversas e risos, por meia hora de transa passageira. O superficial está na moda, aquele botox inserido no cérebro, desviando o trajeto do sublime para a esquina da Ricardo Jafet....
E é desta visão que presenciamos que ratificamos o quanto o amor é precário hoje. Se tudo é baseado em uma imagem construída, em signos que se transformam em pessoas que não são reais, não tem pensamentos reais. Que são movidas ao materialismo, ao supérfluo... É a realidade da orkutização dentro desta blogsfera que vivemos... Se realmente o sexo virtual é melhor, então vamos abolir a camisinha!Para que contato físico? Podemos ser tudo virtualmente..Uauuu até um corpo escultural eu terei e ainda poderei colocar no goglee as informações que eu não souber,para aquele Brad Pitt com quem teclo e colocar no Wikipédia e dizer que sou um Einstein da contemporaneidade!
Poderiam inventar um instituto de extinção para as pessoas que ainda pensam. Desta forma, criaríamos uma sociedade paralela entre as pessoas intencionadas em viver “out” nesta vida cibernética superficial e as que ainda mergulham e prezam o amor incondicional... Infelizmente, acho que faz parte da massa, as pessoas com lacunas nas almas e nos corações. E espero que não vá para o ralo, aquelas que ainda vivem na sociedade de consumo, mas que ainda prezam o romantismo real...
Por mais improvável que possa parecer... Ainda tento sair incólume desta nossa realidade. Eu compactuo com o amor daquela forma pura. Não somente aquele de homem para mulher... O amor humano, aquele de partilhar conhecimentos e estender a mão ao ver meu próximo soluçar...
Hoje, por ainda ser quase intacta não compartilho meus sonhos e derrotas com esta vida moderna. Prefiro pensar que algumas pessoas ainda se assemelham por ideais, a busca do verdadeiro, do simples em comum entre elas.
Um ideal mais profundo, mais do que escolher qualquer par para caminhar ao lado, de escolher as pressas alguém para levar ao altar pelo medo da solidão, é não perder esta essência do amor sublime, mesmo que para isso a melhor opção seja fica só.