15/02/2014

Vamos bater o ponto agora?






Trabalhar é algo necessário para a nossa sobrevivência. E isso não é algo que foi nos ensinado. Aprendemos e pronto. Mas, talvez, o fato de trabalhar sobrecaregadamente tenha sido uma característica adquirida em nosso século. Com todas as revoluções que sofremos, principalmente do ponto de vista tecnológico, trabalhar dobrado, triplicado, a qualquer custo, e a qualquer hora, tornou-se hábito mais do que comum. Há uma patologia para esta realidade a chamada Síndrome de Burnout. Doença descoberta por um psicanalista nova-iorquino chamado Freudenberger causada justamente pelo esgotamento profissional, cansaço. Mas advém do trabalho insano, por consequência, um desvio psicológico dos que trabalham em excesso. E, tão breve, a pergunta vem: para quê? Não temos nem a resposta exata para esta pergunta. Podemos tentar responder como: "somos seres humanos e sempre vamos querer aspirar coisas novas; precisamos sempre dar um upgrade em tudo; há sempre uma nova tentação para nos atraírmos", como: uma nova casa, um novo carro, o sapato da moda, as roupas de grife, acessórios, e o que mais?  Para antigir e alcançar o quê trabalhamos tão incessantemente? 

Eu vejo duas vertentes para isso. A primeira é justamente usar aquela desculpa da insatisfação e a fome de querer sempre mais do ser humano, ( como foi dita). Precisamos do consumo. Então, para pagar este consumismo todo, precisamos trabalhar. O custo de bancar um status alto na sociedade é bem caro. E, além do mais, aquelas necessidades antigas que antes tínhamos já não são mais tão básicas assim. Não temos mais as mesmas necessidades primárias como um simples carro, um imóvel, um emprego e uma família. Agora o carro precisa necessariamente ter artefatos que comportem o avanço da tecnologia. E, o imóvel, precisa ser de alto padrão. Entre todas as outras milhares de coisas que antes pensávamos como luxo e hoje vemos como necessidade padronizada. E, para sanar a dívida desta brincadeira toda, trabalhamos insanamente. Afinal, também custa muito caro viver neste mundo cheio de coisas interessante e com a obrigatoriedade de sempre se dar um upgrade.

A outra vertente que vejo para as pessoas trabalharem tanto, por incrível que pareça, é a mais importante que eu pretendo explanar. Não acredito que as pessoas realmente trabalham SOMENTE para conquistar todas essas novidades, por mais atraentes que elas possam parecer. As pessoas trabalham enloquecidamente para preencher um vazio que, de alguma forma, foi retirado delas. É uma lacuna, um "gap", um buraco, é uma profunda solidão. E é tão fundo, que, só pode ser preenchido com uma quantidade exorbitante de trabalho. Por exemplo: um pai de família que trabalha insanamente, que sempre buscou status na sociedade (atingiu o seu mérito e reconhecimento), mas, por outro lado, sempre se viu longe da família e longe dos prazeres que a vida também poderia proporcionar. A lacuna que este personagem tem na vida é nítida para todos. Fez como muito fazem e inúmeros farão. O trabalho ficou em primeiro lugar, a família nem chegou a ter posição no ranking pois, embora ele tenha sido pai, ele nunca soube o significado minucioso do símbolo família. Afinal, o trabalho, o ego, o poder, sempre ecoaram mais alto.

E é exatamente este perfil o que mais me amedronta. Essas pessoas que veem o trabalho como a sua única e exclusiva fonte de satisfação pessoal. Pessoas deste nicho entraram em um altíssimo grau de individualismo. Esse grupo de pessoas se perderam em seus interesses, não entendem por que trabalham tanto, precisam suprir a sua lacuna criada, e, para isso, inventam e demandam mais e mais projetos para si próprio, e, no fundo, o seu ser permanece inócuo, inabitado. Pois, infelizmente, o seu sucesso na vida não é a posição na sociedade que você conseguiu atingir, o número de imóveis que você comprou, ou quantas pessoas o admiraram por você ter tantos bens. O sucesso na vida é algo que estes seres não conhecerão nesta vida e talvez nem em outra. Chama-se felicidade. Se você já conheceu pessoas assim como conheço, talvez irá entender...

Baseado justamente no que eu estou exaplanando que uma enfermeira americana criou uma listagem de pacientes que, em seu leito de morte, desejavam ter feito diferente, se, a doença não tivesse corroído todos os seus dias de vida e desejos mais profundos de viver perigosamente. Em primeiro lugar ficou o medo e a falta de coragem de ser fiel a si mesmo, com seus desejos e vontades. E, em segundo lugar, ficou o arrependimento de ter trabalhado muito. Engraçado analizar a relação entre esses dois desejos. Em outras palavras: deixamos de ser nós mesmos para nos tornarmos aquilo o que as pessoas esperam de nós, e, do outro lado, trabalhamos com exaustão para compensar os nosso medos. E assim, chegarmos no fim na vida e pensar:  "QUERIA TER FEITO DIFERENTE..."

A verdade é que não é possível fazer diferente quando a sua vida já passou. Não é possível voltar atrás quando o seu filho já cresceu. Não é mais possível acompanhar a formatura da sua filha que você não foi. Infelizmente, aquele almoço de domingo que você se ausentou por ter ido ao trabalho, não vai voltar mais, você perdeu. Bem como você perdeu momentos de choros de seus filhos e você perdeu a alegria das conquistas. Você perdeu as chatices da adolescência e você perdeu também a satisfação no ingresso na universidade. Você perdeu a saída com os amigos da faculdade, você perdeu a experiência de viajar e conhecer novos lugares. Você perdeu sim uma vida inteira que poderia ter sido regada e transformada em experiência novas. E, para compensar tudo aquilo que você nem imagina que você poderia ter o que você tem em troca? = trabalho. Lhe soa uma troca justa?

Não deixe os seus dias terminais de vida serem um sopro de arrependimento do que você poderia ter feito lá atrás. Não permita que a sua vida se torne uma obsessão compulsiva de trabalho ao ponto de você não achar mais graça na simplicidade da vida, ou desprezar a felicidade na sua forma mais simples e singela. Não espere o tempo sucumbir os seus desejos mais profundos. Não se permita usar a desculpa que o trabalho em excesso lhe dá prazer. Confesse para si mesmo que você não tem coragem de viver coisas novas, e tem sim, medo de abraçar novos horizontes. Mude. Viaje. Cresça. Renove, se reivente, conheça pessoas, crie novas formas de prazer, se desarme, produza mais alegria do que trabalho. Pois no final das contas, o dinheiro que você criou e economizou com o seu esforço de trabalho não comprará a sua passagem para ser feliz e gozar da vida novamente.