21/05/2012

Os 30 anos chegaram - Ela pisou na área sagrada



Os 30 anos chegaram - Ela pisou na área sagrada
Por - Paloma Tiba

Se em todas as idades vivenciamos fatos diferentes, aos 30 anos, nos deparamos com uma fase inaugural. Fase a qual já escolhemos a profissão requerida, parte dos medos tornaram-se juvenis, alguns dos sonhos foram realizados, algumas loucuras perdoadas e até esquecidas. Aos 30 pode-se perceber como a falta de algumas coisas estão mais superadas, outras engolidas, e muitas outras ainda gritam por uma realização imediata; como a viagem sem rumo para algum lugar; o planejamento de um filho daqui uns anos, o início do mestrado que foi postergado, a mudança ou o início de uma nova vida em outro país. De qualquer forma, a ansiedade de fazer logo torna-se mais viva, nada mais pode ser adiado, e é necessário fazer uma maratona contra o tempo.

As lamentações também estão maduras. Lembro-me a primeira vez que chorei pela morte do meu avô, e ainda assim pensei que "falta" sentiríamos apenas de pessoas que já se foram. Aquela ausência que angustia, de você saber que nunca mais verá a pessoa, é forte e intensa - mas o tempo lhe ensina que é superável e pode-se viver com isso. Antigamente o entendimento da morte era mais imaturo, (não que hoje sejamos imune a dor) mas depois de um tempo, você vê que há pessoas que ainda estão aqui, e podem nos causar mais falta às que já se foram. E esta lacuna não nos incomoda mais, pelo menos, não ao ponto de lhe tirar o sono. Afinal, aos 30 já sabemos que pessoas vão e vem. E sabemos que dor agonia, mas passa. Sendo elas vinda de seus pais, seus amigos-irmãos, seu colegas, seus amigos de trabalho. Com a diferença que a esta altura, aos 30 anos, já sabemos os que ficam, os que se importam, os que nos amam, os que podem chorar pela sua falta, e os que podem ir, mas que sozinhos e sem cobranças, sabemos que irão voltar. Hoje também sinto que perdoar tornou-se diferente. Pessoas que um dia, alguma vez, em alguma ocasião nos fizeram mal, não detemos esta pessoa para o nosso hall seleto de amigos. Aos 30 anos o seu meio de amigos está escolhido a dedo - os que entram são preciosos - os que ficam são a maior raridade, e certamente os que se foram, não há mais espaço para voltar.

Aos 30 anos a percepção perante ao mundo também sofre mutação. Até os pecados perante ao planeta que antes nunca nos preocupariam, hoje nos afeta. Depois de passarmos por uma fase che-guevarista e revolucionária de querer mudar o mundo, assentamos. Mas nos deparamos com uma semente brotada de querer fazer diferente, fazer valer a pena. Hoje digo que não perdoo quem não entende que o planeta precisa de um pensamento coletivo, desde a prudência de escolher um governante descente, até a consciência de não jogar papel na rua. A crítica. Isso é algo que evolui para o bem e para o mal também. Tudo é um exagero, tudo precisa de um questionamento, uma discussão. Para todos os assuntos, todas as hipóteses serão analisadas antes da decisão final. E, embora a irreverência, espontaneidade, e inconsequência, também tenham amadurecido - sabemos que se precisarmos "delas" para mudarmos de vida e simplesmente faríamos sem culpa.



Refletindo anos atrás, deparamos com a pressão que foi até chegarmos aqui. A faculdade que precisou ser no tempo certo, a decisão de escolher o que fazer pela vida inteira foi indiretamente imposta, o fator de ganhar dinheiro foi sucumbindo por todos os seus maiores sonhos. E agora? Tudo foi ao mesmo tempo - e não foi questionado como você se sentia perante as mudanças radicais da vida. O único questionamento que fazem a você até você completar a vida adulta é se a sua profissão lhe dará frutos o bastante para criar sua família. Eu passei por todas essas cobranças, fui fraca para enfrentar algumas, e, mesmo assim, quebrei alguns tabus. Agora aos 30, nada mais me trará culpa. Parece que só aos 30 você consolida a sua opinião sobre isso: pessoas têm tempos diferentes, entendimentos diferentes - desejos EM ORDENS diferentes. 

E hoje depois das aulas da vida, os tombos, surras e rasteiras - eu me sinto forte, (mesmo com cicatrizes), mas realizada. Sinto que tenho toda a gana do mundo para alcançar o que ficou para trás. Os sonhos convencionais de casar aos 30, e ter os herdeiros disponíveis nesta idade - eu não preciso fazer agora. Assim como algumas percepções vieram tarde para mim, este assunto também virá. Eu ainda tenho muitos sonhos em meus planejamentos, isso sim ainda me tira o sono....As viagens que ainda preciso fazer, as experiências e amigos que ainda terei, o mestrado que irei abraçar, os estudos em países diferentes que irei explorar. Tudo isso ainda virá, e isso ferve em meus sangue como nunca. E se alguém ousar em dizer que é inconsequência fazer isso aos 30, hoje eu sei que a maior inconsequência COM VOCÊ é o medo de não fazer, e principalmente: estar tão preso em um conceito estabelecido e em uma vida prisão padrão, e virar um morto-vivo em sua zona de conforto.

Daqui em diante esta mulher de 30 não liga mais para as fórmulas. Não espero acertar tudo, mas sei que terei a humildade em aprender o que for preciso, e terei a força para apoiar a vida de experiências que decidi ter. Eu sei que não tenho sonhos padrão, mas isso não importa. Em minhas decisões eu posso não agradar a todos, mas sei que terei muitas histórias para contar e é de disso que vivo - da necessidade de construir um roteiro original da minha vida. Por isso MEUS amigos que até agora acompanharam meu caminho e sabem quem eu sou. (Uma pessoa cheia de sentimentos e vontade de viver). Não esperem nada muito especial de mim, pois parafraseando Lispector " Eu vou seguir meu coração". Não me façam ser que eu não sou, e não me mostrem convites para ser igual, pois eu não serei. Eu não sei amar pela metade, não sei viver pela metade, não sei me doar pela metade, não sei dar um pouco de mim nas coisas. Hoje, aos 30 ,eu aprendi que voar alto o tombo pode ser fatal. Mas prefiro esta fatalidade a viver as coisas racionalmente e medianas. Pois sei que depois de cumprir com todos os meus sonhos que me agitam nestes 30 anos de existência, ao final, eu não serei mais a mesma - e certamente - me tornarei uma pessoa melhor.

Paloma Tiba

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